É uma peça de teatro representada no dia 5 de Agosto (dia da padroeira) no largo das Neves, por populares das freguesias de Mujães, Barroselas, e Vila de Punhe, concelho de Viana do Castelo.
Centrada numa luta entre o Imperador Carlos Magno e seu exército contra turcos (que não eram da Turquia mas da Hispânia!), a representação é monopolizada pela batalha entre o cavaleiro cristão Oliveiros e Ferrabrás, o rei de Alexandria, na qual o primeiro vence, mas que é preso através de uma emboscada do exército turco. Realizadas embaixadas de parte a parte para serem resolvidas as divergências, são detidos quatro embaixadores cristãos e o clima de guerra intensifica-se para então surgir Floripes, a filha do rei turco Almirante Balaão, que movida por amores por um cavaleiro cristão (Guui de Borgonha) trai o seu pai, enfeitiça o carcereiro e solta os presos para acabar por se casar com Oliveiros. Ficando o exército de Carlos Magno restabelecido é travada batalha entre todos os soldados na qual os cristãos desarmados, mas providos de valentia, vencem os turcos que aceitando a conversão cristã são libertados. Termina o evento com cânticos e danças entre vencedores e derrotados, acompanhados pelo som das palmas do público e das bandas filarmónicas que tocam as músicas características, as Contradanças.
Ao estilo do teatro medieval, os infiéis são ridicularizados e humilhados pois perdem contra cristãos desarmados, e que para serem soltos sujeitam-se à conversão; para de seguida incorporarem uma dança, que se enquadra nas mouriscas e judengas muito populares a partir do reinado de D. Manuel I (1495-1521) após a expulsão ou conversão forçada dos mouros e judeus, e realizadas nas festividades religiosas ou até nas procissões mais relevantes, como as do Corpus Christi. Os cânticos da loa final são uma consagração a Nossa Senhora das Neves.
O Auto da Floripes herdou da Idade Média o anonimato da autoria do texto, da criação da dramatização e do início das representações. Transmitido oralmente de geração para geração, face aos registos do século XIX e por ser uma adaptação da versão portuguesa do livro fantástico A História do Imperador Carlos Magno e dos Doze Pares de França, da autoria de Jerónimo Moreira de Carvalho publicada em duas partes em 1728 e 1737, o início das representações do Auto da Floripes está actualmente temporizado, com uma boa margem de exactidão, entre a segunda metade do século XVIII e o início do XIX.
O Auto da Floripes é um património cultural popular com três séculos de antiguidade, dez séculos de literatura, vinte séculos de história europeia e de um povo fantasista que absorveu e transmitiu várias influências culturais.
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